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Feedback após um processo seletivo. Pedir ou não pedir?


Quando um candidato sai confiante de uma entrevista de emprego, os dias seguintes são de ansiedade à espera de uma resposta do recrutador. É só o retorno não chegar no prazo combinado que a angústia aumenta, a autoestima fica abalada e o candidato começa a pensar na melhor forma de cobrar uma resposta da empresa.

Segundo profissionais ligados a processos de recrutamento e seleção ouvidos por UOL Comportamento, o candidato pode entrar em contato com o recrutador para saber em que pé está o processo seletivo, mas é preciso ter bom senso e maturidade.

Antes de tudo, é imprescindível respeitar o prazo dado pelo recrutador. "Entrar em contato antes evidencia alto grau de ansiedade", diz a psicóloga, consultora de carreiras e coaching Cristiane Moraes Pertusi. Mesmo se o prazo já tiver vencido, ela sugere dar mais alguns dias de tolerância. "Esperar uma semana a mais do prazo para entrar em contato não demonstra tanta afobação", diz Cristiane, que é doutora em psicologia do desenvolvimento humano.

Essa foi a estratégia da designer mineira Thiara Araújo. O retorno da entrevista para uma vaga de assistente deveria chegar em uma semana, o que não aconteceu. Como a vaga era realmente o que ela queria e as expectativas eram boas, ela esperou mais uma semana e entrou em contato por telefone.

"Liguei para a recrutadora para saber o resultado. Ela se desculpou por não ter tido tempo de ligar para aqueles que não foram chamados e informou que eu não tinha passado", conta a designer, que ficou mais decepcionada com a negligência da empresa do que por não ter sido selecionada.

Telefone ou e-mail?

Para quem fica em dúvida sobre qual meio escolher, a dica do psicoterapeuta José Roberto Marques, presidente do IBC (Instituto Brasileiro de Coaching), é entrar em contato com o recrutador pelo mesmo meio em que foram feitas as conversas anteriores.

"Se os contatos foram por telefone, ligue; se foram por e-mail, envie a mensagem. Caso vocês tenham trocado as primeiras conversas por e-mail e ele tenha lhe dado o contato telefônico, isso significa que você pode também ligar", diz ele.

Independentemente de ser telefone ou e-mail, Marques recomenda ser sempre cordial e educado. "Caso seja por telefone, tome cuidado com o tom de voz. Identifique-se, diga para qual vaga se candidatou, por quais etapas do processo seletivo já passou e pergunte ao recrutador se a vaga já foi preenchida. Em caso positivo, agradeça e se coloque à disposição para uma posterior oportunidade; se for negativo, pergunte se pode retornar ou se eles farão o contato".

Nos casos em que o recrutador não deu um prazo específico, esse contato pode ser feito justamente para pedir uma previsão. “Mas o ideal é já sair da entrevista sabendo qual é esse prazo”, diz a psicóloga Cristiane.

Tempo médio é de uma semana e meia

Em pesquisa realizada em 2011, a empresa de recrutamento online Catho constatou que o tempo médio entre o primeiro contato da empresa e a oferta oficial do emprego é de uma semana e meia. Mais de 46 mil pessoas residentes no Brasil foram entrevistadas e quase 10% delas, no entanto, levaram seis semanas ou mais para receber a proposta de emprego.

Além da competência, a paciência precisa ser uma das qualidades de quem se candidata aos cargos mais altos: segundo a pesquisa, a espera pelo retorno de uma vaga de diretor é mais do que o dobro do tempo de quem espera retorno para uma vaga de auxiliar, por exemplo.

"Podemos, então, dizer que um prazo bom é de 15 dias", diz Marques, presidente do IBC. Para ele, é preciso ainda levar em consideração quantas etapas terá o processo seletivo e se mais pessoas estão participando ou não, fatores que podem levar a um atraso na divulgação do resultado.

Atraso ou ausência de resposta é quebra de confiança

Para o psicólogo Jairo Eduardo Borges-Andrade, professor do programa de pós-graduação em psicologia social, do trabalho e das organizações da UnB (Universidade de Brasília), o candidato não só pode como deve cobrar um retorno do recrutador, caso essa reposta não chegue no tempo combinado. Para ele, no entanto, se o processo de seleção chegou a esse ponto, todos já saíram perdendo.

Borges-Andrade compara o processo seletivo para uma vaga de emprego a uma compra feita pela internet. Assim como o consumidor pesquisa a idoneidade de um site, o candidato também procura se informar sobre a empresa e sobre a vaga. Se o consumidor faz a compra e a loja promete a entrega em uma semana, mas o produto não chega no dia prometido, ele perde a confiança no site. A decepção, compara o psicólogo, é similar à de um candidato que não recebe resposta da entrevista no prazo estipulado.

"O candidato estabelece uma relação de troca e de confiança. Ele se esforça e faz um investimento não só de tempo como afetivo, porque convence a si próprio de que a empresa vale a pena e que o relacionamento pode ser de longo prazo. Se a empresa não cumpre o prometido, ele fica desgastado já no começo", diz. 

Mesmo que o candidato seja contratado, a quebra da confiança do início da seleção poderá atrapalhar o rendimento do profissional. “Se o candidato já sabe que a empresa não cumpre com a parte dela, pode achar que ele também não precisa cumprir com a parte dele. A motivação pode estar comprometida", afirma o psicólogo.

É graças a todo esse investimento emocional e intelectual que Borges-Andrade sugere o contato do candidato com a empresa não só para pedir um retorno, mas, também, para um retorno sobre os erros e acertos. É bom para o desenvolvimento pessoal do candidato e também para a imagem da empresa, já que ela é construída por todos que se relacionam com ela. 

O estilista David Shek ficou decepcionado com a ausência de retorno de duas entrevistas em empresas diferentes. "Dá a impressão de falta de planejamento interno", diz. Ele, que já cobrou respostas, acredita que "a partir do momento em que você é tratado com pouca consideração por um recrutador, é a empresa como um todo que acaba sendo prejudicada, seja pela má impressão transmitida ou pela perda de um bom profissional".